Opinião

SOJA: UMA QUESTÃO COM MUITAS RESPOSTAS…
Por Carlos Henrique Nicolau da Silva
Publicado por Gaia Sustentável


Ao avaliarmos diferentes sistemas alimentares, nos deparamos com inúmeras interpretações sobre os hábitos alimentares humanos. Ao tratarmos dos sistemas que não se utilizam dos gêneros animais como alimento – não falando de seus derivados – podemos enxergar uma gama de vertentes que, mesmo visando o bem estar e a saúde de nossos corpos, diferem totalmente entre si na forma como abordam a alimentação.

Com os tempos modernos, abrimos nossas culturas e abrigamos e difundimos muitos hábitos alimentares. Desde a americanização da indústria alimentar, primeiro com a industrialização – enlatados, misturas prontas, pratos pré-prontos e congelados – até a febre das junk-foods; com os reverbérios da contra-cultura, quando começamos a sentir os efeitos da alimentação desequilibrada e abriram-se as cabeças para os sistemas alimentares tidos como “mais naturais e mais saudáveis”. A saúde alimentar torna-se então um fator importante, e passa a ser considerada, tanto pelas pessoas e organizações, quanto pelo mercado alimentício.

Com a descoberta dos alimentos funcionais e, ainda antes, com a chegada das culturas alimentares orientais, outros elementos foram incorporados à mesa do brasileiro, senda a soja um dos mais arrebatadores dos últimos tempos. Trazida das culturas asiáticas, logo se difundiu como um item agrícola de alta rentabilidade, pois, assim como inúmeros outros alimentos, possui múltiplas utilidades.

Inúmeros estudos apontam a soja como um alimento de multi-benefícios, mas como infelizmente a maioria dos estudos alimentares são financiados e estão a serviço da grande indústria, não foram explicitados os malefícios da leguminosa. Não que estejamos falando de uma grande vilã disfarçada de mocinha, mas sim de como a grande indústria alimentícia distorce e deturpa antigos conhecimentos.


Desde muitos séculos a soja já vinha sendo cultivada na China, e pouco depois, no Japão. Diferentemente daqui, onde milhares de árvores são derrubadas para a extensa monocultura da soja, etnias e comunidades desalojadas e perturbadas, num processo semelhante ao da agropecuária. Ambos estão tão ou mais interligados do que pensamos. Após um curto período de monocultura – seja ele de soja ou qualquer outra cultura – muitas vezes uma terra só se prestará a abrigar gado, para consumo humano ou não. A própria soja é exportada em massa para servir de ração em países com pouco espaço para pastoreio e muitas bocas ávidas por proteínas animais. As coisas acabam se ligando, basta pararmos para refletir…

Como todo vegetal que é cultivado sozinho e exclusivamente em uma determinada área, há uma exaustão de certos nutrientes encontrados na terra, e o desequilíbrio de outros, produzidos pela monocultura em larga escala. Em referência à nutrição humana, o caso da soja, assim como as leguminosas de grãos em geral (feijões, ervilha, grão de bico, lentilha), há uma alta concentração de proteínas, e ainda mais, de elementos como cálcio, ainda que não tão bio-disponíveis quanto os que se encontram nos gêneros animais, como leite, queijos e ovos. Aí nos deparamos então com uma das questões mais pertinentes no caso da soja: a sua biodisponibilidade. Uma palavra que pode dizer muito sobre um alimento.

A biodisponibilidade nada mais é do que o grau de associação que elementos nutricionais contidos nos alimentos possuem em nosso organismo. Ao falarem da soja, e das enormes quantidades de vitaminas, sais minerais e nutrientes que ela possui, as indústrias não explicitam a outra face da moeda. Apesar das altas quantidades de proteína e cálcio que ela possui, nem tudo é passível de ser absorvido por nosso metabolismo. Por conter fatores anti-nutricionais em suas formas não fermentadas, muitos dos nutrientes do grão não serão bem absorvidos pelo organismo humano. Além disso, hoje encontramos suplementos nutricionais e alimentos que são ricos nestes nutrientes, vitaminas e minerais, e que cobrem, com vantagem sobre a alimentação predominantemente carnívora, as nossas necessidades nutricionais.

De fato, a indústria alimentícia muito omite sobre o conteúdo real daquilo que comercializa. A soja, com a revolução da indústria dos alimentos, sejam eles rotulados como naturais ou industrializados, passa a ser um componente de peso na mesa do brasileiro, mesmo que ele não esteja ciente disso. Experimente perguntar se alguém já comeu o grão de soja, se conhece a planta da soja. Nos embutidos de carne, nas salsichas, nos biscoitos – inclusive os integrais – nos temperos prontos; a soja pode ser encontrada na maioria dos alimentos industrializados. Um exemplo claro da presença da soja é o glutamato monossódico, ou realçador de sabor, um dos seus derivados amplamente utilizado na indústria alimentar.


Comparando com o oriente, estamos longe do exemplo dado para o uso da leguminosa. Lá, seu uso é quase todo em formas fermentadas: tofu, shoyo, missô, tempeh – no processo de fermentação, a soja perde suas toxinas e passa por reações específicas como a hidrólise de proteínas, proporcionando a formação de peptídeos e aminoácidos. O resultado desse processo deixa os nutrientes mais biodisponíveis e fáceis de serem absorvidos. Além disso, em sua forma não fermentada, contém substâncias como inibidores de protease e ácido fítico, considerados fatores anti-nutricionais, reduzindo a biodisponibilidade no organismo de minerais essenciais como ferro, cálcio, magnésio, zinco e cobre. Em sua forma fermentada, os micro-organismos fazem o processo de “quebra das moléculas” no lugar do nosso intestino, impedindo os fatores anti-nutricionais e facilitando a absorção dos nutrientes do grão.

A pesquisadora e escritora Sônia Hirsch nos brinda com seus comentários sobre a soja, em seus livros que unem as mais úteis informações sobre os alimentos, suas histórias e origens, suas funcionalidades e aspectos nutricionais, interligando-os à diversos tipos de dietas para a manutenção da saúde, é leitura de referência para quem quer entender mais os alimentos e sua interação com nosso organismo, com uma perspectiva holística e multicultural.

Existem ainda muitas outras perspectivas de abordagem em relação ao tema da soja, e que podem ser aprofundados com pesquisa, leitura e investigação: vegetarianismo, trânsgenia, monocultivo, indústria alimentar, e por aí vamos…

A receita de hoje vai levar sim a polêmica soja, mas é claro que na sua forma devidamente segura: o missô!

CREME DE INHAME COM MISSÔ



Esta sopa é super renovadora de energias, depurativa do sangue e muito fácil de fazer:
Ingredientes:

500 grs de inhame
Missô
2 dentes de alho
Salsinha à gosto

Modo de fazer:
Cozinhe o inhame, de preferência com casca. Esfrie-o na água corrente, e retire as cascas. No liquidificador, ponha o inhame, o alho, missô que baste, e água. Bata bem, e retorne para a panela, para esquentar, mas sem deixar ferver. O missô não pode ferver, ou perderá suas propriedades! Sirva com salsinha bem picada.
Bom apetite!!

Links para consulta sobre o assunto e utilizados neste texto:
http://www.aferbio.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=4&Itemid=6
http://www.puravida.com.br/artigos-do-mes/soja-mitos-e-verdades/http://www.umaoutravisao.com.br/artigos/soja/sojaosegredosinistro.htm
http://www.soniahirsch.com/2010/11/soja-nao-e-solucao-e-problema.htmlhttp://correcotia.com/soja/



POR FAVOR, MENOS LÁGRIMAS E MAIS NEURÔNIOS
Por Fábio Zugman
Publicado por Administradores

Eu odeio a palavra “sustentabilidade”. Não me leve a mal, caro leitor. Também odeio palavras como “paradigma”, “reengenharia”, “recursos”, “alavancar” e várias outras que, de tão usadas, acabam não significando nada. Mas a bola da vez é a sustentabilidade.
Tudo começou com algo chamado “externalidades”. A grosso modo, externalidade é quando algo que você faz atinge alguém de fora. Se você dá uma festa em seu apartamento e incomoda os vizinhos com o barulho, está gerando uma externalidade negativa. Um pessoal que não tem nada a ver com sua festa está sendo incomodado com a sua diversão. O mesmo ocorre quando você resolve comprar um carro e deixar de andar de transporte público - você fica mais confortável, mas o carro de cada um de nós ocupa espaço na rua e polui o ar que todos os outros respiram.
Simples assim. Dizer que algo é sustentável, portanto, é identificar as tais externalidades negativas de uma atividade, e procurar formas de causar menos mal à nossa volta. Em tese tudo isso é ótimo, a própria ideia de stakeholder é procurar fazer com que administradores de empresas observem o ambiente ao seu redor e procurem uma forma de diminuir qualquer mal que façam, seja ao ambiente, à vizinhança, a uma classe de funcionários e assim por diante.
Quem, afinal, quer causar problemas à sua volta? Tornar um negócio ou uma empresa em algo sustentável significa dizer que ela “se sustenta” e não depende de prejudicar ninguém com suas atividades. Claro que no mundo real poucas fábricas realmente conseguirão zerar seu impacto negativo em todas as áreas possíveis e imagináveis, mas a diminuição de tais impactos, junto ao avanço da tecnologia, é o melhor caminho para tornar o mundo mais sustentável de uma forma equilibrada e realista. Um carro que faz 12 quilômetros por litro é preferível a um que faça 8.
Qual o problema, então, com o termo “sustentabilidade”? O problema é que como outros temas que entram na moda, o termo foi sequestrado por pessoas, empresas e organizações que querem “sustentar” seus próprios interesses.
Apesar das propagandas, não creio que ser sustentável signifique fazer xixi no próprio pé durante o banho, deixar de receber sacolas plásticas no mercado (que, pelo menos na minha casa, costumavam ter uma segunda vida como sacos de lixo), ir a um show com o termo “sustentável” no nome ou fazer qualquer tipo de demonstração como a “hora do planeta”, em que milhões de pessoas apagam a luz por uma hora e se sentem mais satisfeitas consigo mesmas por estarem ajudando o mundo – não estão, pois o número de acidentes costuma subir em locais que adotam essa iniciativa, além do fato de que milhões de pessoas desligando e ligando sua energia elétrica no mesmo horário pode causar problemas e custos adicionais ao sistema de gestão de energia.
Ser sustentável vende. Muitas pessoas estão até dispostas a pagar mais por algo com o selo “sustentável” do que um produto semelhante sem o selo. Existem boas e belas iniciativas, mas como sempre, há pessoas, empresas e organizações tirando proveito da situação, ganhando votos, dinheiro e participantes para suas causas por motivos que em última análise são bastante egoístas.
Há pouco tempo atrás, um empresário me contou que quando vê alguém dizer que sua iniciativa e empresa é sustentável, pensa se a mesma pessoa diria que é honesta. Afinal, ser honesto é um ponto de partida, e se alguém precisa nos contar que é honesto, o melhor a fazer é pensar em quais as reais intenções dessa pessoa. O mesmo deveria valer para a sustentabilidade. Ninguém deveria ser admirado somente por ser honesto. Nem por ser sustentável. Afinal, seja em nossas vidas pessoais seja em nosso ganha pão ou nos produtos que consumimos, quem quer fazer mais mal do que bem em nossa passagem pelo mundo?
Quer se tornar mais sustentável? Analise como você, seus comportamentos e produtos impactam o mundo à sua volta, procure meios de diminuir seu impacto negativo e aumentar o positivo. Simples assim.
O resto é discurso.



SONS ORGÂNICOS
Por Adilson Luiz Gonçalves
Publicado por A Tribuna Mato Grosso

Já disseram que a voz humana é o instrumento musical mais perfeito! Os instrumentos musicais passaram a acompanhá-la, em princípio, apenas com acordes introdutórios. Aedos, bardos, menestréis, trovadores e outros artistas cantavam histórias desde a Antiguidade, e quanto mais belo o seu canto, permeado pelo lirismo e pela ironia, mais se tornavam famosos e celebrados.
A diversidade e o potencial da voz a dividiu, posteriormente, em naipes: barítono, tenor, contralto, soprano… O fascínio por ela também gerou absurdos, dentre os quais, a aberração dos castrati talvez seja a mais emblemática.
O canto gregoriano e os corais polifônicos deram ar divino e épico à voz humana, ao ponto de afirmarem que quem canta ora duas vezes. Mas foi com advento dos grandes solistas que a voz humana atingiu seu ápice. Enrico Caruso, Maria Callas e Luciano Pavarotti são conhecidos porque há registros de suas vozes. No entanto, quantos outros podem ter sido ainda maiores, antes deles?
Isso não impedia, como não impede, que grandes vozes nos encantem no canto popular. E não precisam ser potentes! Chico Buarque tem uma voz “pequena”, mas ninguém interpreta suas músicas melhor do que ele! Elizeth Cardoso nunca precisou gritar ou quebrar copos de cristal para nos maravilhar com sua voz. Já os falecidos Jessé, Minnie Riperton e Withney Houston conseguiam alcançar notas altíssimas, mas chegavam a irritar, com essa constância.
Outro dia, lembrei de alguns grupos vocais: Tamba Trio, Quarteto em Cy, MPB4, Boca Livre, Os Três do Rio, Os Cariocas… Eles nem precisavam de acompanhamento instrumental, pois suas vozes já eram mais do que suficientes para preencher todos os espaços. Alguns desses grupos até imitam os instrumentos que acompanhavam o canto!
Recordei, ainda, do “Swingle Singers”, grupo vocal criado nos anos de 1960, no qual vozes masculinas e femininas brincam com melodias de todos os tipos, mesclando qualidade musical com bom humor performático. Ouvi a formação inicial do grupo quando tinha uns oito anos e o estilo “ba-dá, ba-dá” nunca mais saiu de minha mente, como o “laiá-raiá” que sempre nos salva das letras esquecidas.
Fruto desse bate-papo “internético”, fui dar um passeio no YouTube para, depois de ouvir e ver, pela enésima vez, sua impagável versão da “Abertura 1812”, de Tchaicovsky, encontrar outro grupo: “The Vocal People”, que canta e faz acompanhamento “instrumental” de várias músicas. Depois, foi a vez do fantástico “Barbatuques”, cujos integrantes usam o corpo como instrumento musical!
Tudo muito diferente dos “tchum-tchurum-tchum-tchum”, “tchum-cum-tchác” e outras onomatopeias entoadas por certos “cantores”, com as bênçãos de mídias que querem converter “popular” em sinônimo, barato e lucrativo, de má qualidade.
A voz humana, quando bem usada, é maravilhosa, eclética, emocionante e grandiosa, mesmo quando singela. Definitivamente, não é o que se ouve por aí, atualmente!
Parece que estamos desaprendendo a ouvir…

Adilson Luiz Gonçalves é membro da Academia Santista de Letras, mestre em educação, escritor, engenheiro, professor universitário e compositor-  e-mail: algbr@ig.com.br



CORRUPÇÃO: NA CONTRAMÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Por Newton Figueiredo
Publicado por TERRA

A corrupção continua a ser um dos inibidores do desenvolvimento sustentável do Brasil. Ela afeta as decisões de investimentos, desvirtua o crescimento econômico, altera a composição dos gastos empresariais e governamentais, causa distorções na concorrência, abala a legitimidade dos governos e a confiança nas instituições.
Em 2010, entre 180 países pesquisados, o Brasil obteve a 69º colocação - apenas seis postos à frente da posição observada em 2009, de acordo com ranking elaborado pela ONG Transparência Internacional. Embora tenha havido melhoria ela é pequena e tal posição parece ser incompatível com de sexta economia do mundo. A elevada burocracia e a fragilidade das instituições reduzem a eficiência da administração pública. Aliadas ao desempenho do sistema judiciário resultam em baixos índices de governança e em um alto nível de corrupção percebida.
O relatório Corrupção: custos econômicos e propostas de combate, preparado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), estimou as perdas econômicas e sociais do Brasil com a corrupção. Na média do período entre 1990 e 2008, o País apresenta um PIB per capita de US$ 7.954 e um Índice de Percepção da Corrupção (CPI em inglês) de 3,65. Se tivesse um nível de percepção da corrupção igual a 7,45 (média dos resultados de Coréia do Sul, Costa Rica, Japão, Chile, Espanha, Irlanda, Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Canadá, Cingapura e Finlândia), o PIB per capita brasileiro passaria a US$ 9.184, ou seja, um aumento de 15,5%.
Isso significa que a corrupção em nosso País gera um custo médio anual estimado em R$ 41,5 bilhões, correspondendo a 1,38% do PIB (valores de 2008) e que, se aplicados em atividades produtivas, poderiam chegar a R$ 69,1 bilhões.
Esses recursos poderiam beneficiar milhões de brasileiros, com investimentos em áreas como educação, saúde, saneamento, habitação, segurança, transporte e infra-estrutura. Por exemplo, a primeira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1) do governo federal prevê que, para atender 3,96 milhões de famílias no quesito habitação, precisam ser investidos R$ 55,9 bilhões (incluindo os recursos da contrapartida de Estados e municípios). Utilizando o custo médio anual da corrupção de R$ 41,5 bilhões para construção de moradias, temos que 2,94 milhões de famílias poderiam se atendidas, ou seja, 74% das famílias previstas pelo PAC 1.
Caso queira pertencer ao patamar de nações mais civilizadas, prósperas e mais responsáveis com seus povos e suas riquezas, o Brasil precisa, rapidamente, passar da 69 posição para, pelo menos os 10 primeiros menos corruptos. É urgente a adoção de uma agenda anticorrupção, com ações permanentes, punições severas e imediatas com exposição para a nação dos prejuízos causados. Um dos caminhos indispensáveis passa pela reforma política. Trata-se de uma questão que deve ser conduzida como um projeto nacional, considerando as diversas esferas públicas, além da iniciativa privada, buscando os interesses da sociedade.

Newton Figueiredo é fundador e presidente do Grupo SustentaX, que desenvolve, de forma integrada, o conceito de sustentabilidade empresarial ajudando as corporações a terem seus negócios mais competitivos e sustentáveis, identificando para os consumidores produtos e serviços sustentáveis e desenvolvendo projetos de sustentabilidade para empreendimentos imobiliários.



RIO+20: VAI ENCARAR?
Por Jean Remy Guimarães
Publicado por Ciência Hoje

Enquanto a cidade se prepara para sediar, duas décadas depois da Eco-92, grande evento ambiental, Jean Remy Guimarães compara os dois momentos, destacando as promessas (não cumpridas) do primeiro e a falta de expectativas para o segundo, que ocorre num contexto de crise financeira e consumo disparatado.
A Rio+20, conferência internacional que o Rio de Janeiro vai sediar de 20 a 22 de junho deste ano, deve seu nome à histórica conferência Eco-92, também chamada Cúpula da Terra, que ocorreu na mesma cidade há exatos 20 anos. É uma pesada responsabilidade. Entre ambas, uma geração se passou.
A Eco-92 foi um momento mágico em que a discussão sobre a saúde ambiental do planeta e a sustentabilidade de nosso modo de vida chegou às mais altas esferas da política, enquanto ONGs e eventos paralelos transformavam a cidade num fórum a céu aberto. A fé da humanidade em si própria cresceu, o bom senso parecia começar a prevalecer.
Após esses 20 anos de novas gigatoneladas de emissão de carbono fóssil, há pouco ou nada que confirme as loucas esperanças e promessas de 1992. Desde a Eco-92, as conferências mundiais sobre o clima vêm se esvaziando e o ambientalismo coleciona derrotas.
Para a Rio+20, há até o momento apenas 30 chefes de estado com participação confirmada. É pouco para uma agenda, ainda em negociação, que gira em torno de 10 metas ambiciosas: consumo responsável, produção ecoeficiente, proteção dos oceanos e outras áreas naturais, segurança alimentar, agricultura sustentável, energia limpa para todos, acesso à água e eficiência no seu uso, cidades sustentáveis, economia verde e inclusão social, prevenção de desastres naturais. Tudo isso em três dias apenas.
A Eco-92 gerou acordos legalmente vinculantes, enquanto na Rio+20 os países participantes definirão voluntariamente suas próprias metas visando menor consumo e pobreza e uma economia verde global. Não serão previstas palmadas em caso de fracasso ou corpo mole.
Contudo, em meio a uma crise econômica iniciada por um punhado de especuladores espertinhos, mas que espalhou sofrimento, medo e pessimismo globais, querer os holofotes para a agenda ambiental parece inoportuno e até de mau gosto, não é? Alguns leitores podem ter perdido a casa, o emprego e o crédito em alguma das crises financeiras anteriores, enquanto os inventores da crise foram salvos com dinheiro público.

Predador ou parasita?
Mas pensando justamente em economia e ecologia... E se a economia fosse um ecossistema, que função ecológica poderia desempenhar o sistema financeiro? Hesito entre a de predador e a de parasita, neste caso um parasita suicida, que mata seu hospedeiro na certeza da própria imortalidade.
É um sistema curioso; vendem-te uma casa que você não pode pagar, o orçamento estoura e você perde a casa, o que já pagou por ela e, em troca, ganha uma multa salgada e uma dívida idem que, sem casa – e a essa altura também sem emprego –, jamais poderá pagar. E o que nos sugerem os maestros dessa orquestra-bufa para sair da crise? Mais crescimento.
Afinal, até aqui, sempre deu certo. Sucessivos impérios se formaram e decaíram, sob o próprio peso, pela revolta dos povos conquistados e submetidos e/ou por exaustão de recursos, mas sempre havia um continente novo onde recomeçar. Hoje em dia, só se for no Second Life e companhia, pois no mundo físico já estamos todos cercados.
O crescimento não é mais solução, já que pela primeira vez esbarra nos limites físicos do planeta. Quem disse isso recentemente em português não foi um ambientalista ressentido, mas sim André Lara Resende, um dos pais do Plano Real. E se mantivermos os níveis de crescimento, consumo e desperdício de hoje, precisaremos de dois planetas Terra em 2030 e uns três ou quatro em 2050. Note que 2030 é logo ali, seu financiamento imobiliário talvez só termine depois disso.
Acho que não vai dar tempo, já que continuamos empenhados em destruir a infraestrutura que garantiu o crescimento até aqui. E o que construímos com isso? Uma vida saudável em sociedades mais harmoniosas e equitativas? Que qualidade de vida podemos esperar em 2030, a que custo e para quem?
Quem vai à Rio+20 parece estar legitimamente preocupado com essas questões. E, enquanto cidadão, o que fazer além de fechar a torneira enquanto se escova os dentes? Escolher, se puder, entre um carro flex e a crueldade do transporte público? Que sinuca! Carro elétrico? Tá doido, não há nenhum no mercado, só importado e a custo obsceno.
Mas o mesmo jornal que traz todo santo dia os classificados que você só lê uma vez por ano traz páginas inteiras, edição após edição, de publicidade de automóveis, a gasolina ou flex, que vão entupir ainda mais a malha viária já saturada por um aumento da frota muito superior ao da população, lembrando sempre que as ruas e avenidas continuam com a mesma largura.
Eureca! Nada como um engarrafamento para entender tudo. A cidade engarrafada, inviabilizada pelo próprio inchaço e emitindo carbono e calor sem sair do lugar – embora sugando tudo a sua volta como um buraco negro –, parece a imagem perfeita de nosso genial sistema econômico, e a finitude do espaço físico urbano é espelho daquela dos recursos do planeta.

Sucessão de maus exemplos
Animado com o insight, ponho o jantar para reaquecer no forno e enquanto devaneio esperando o prato esquentar, contemplo a quinta torradeira que comprei em dez anos, graças à obsolescência diabolicamente planejada. É verão, a cozinha logo vira uma estufa. Moro em um prédio. Imagino se o mesmo está ocorrendo nesse instante em todas as cozinhas do edifício. Lembro de uma matéria recente publicada no caderno de classificados sobre a invasão do ar-condicionado nas cozinhas e varandas.
Pergunto-me por que não há dutos nas cozinhas para eliminação do calor dos fornos. Economizaria energia elétrica de ventiladores e condicionadores de ar e só acrescentaria algo ao custo total da construção, já que o ar quente sobe sozinho e ainda poderia pré-aquecer a água do banho. Vejamos... 100 hipotéticos reais economizados na conta mensal de luz e investidos a 0,8% ao mês seriam R$ 28.043 daqui a dez anos. Com isso, dá para desfazer aquela besteira de, por exemplo, envidraçar a área externa, e fazer uma obra que tenha algum sentido.
Já ouviu falar em efeito-estufa? Também funciona em casa. Mas os arquitetos e engenheiros não ouviram falar disso. Se tivessem, não construiriam o seu apartamento dessa forma, sem os tais dutos e muito provavelmente com todas as janelas voltadas para a mesma direção. Ventilação cruzada, passiva e, portanto, de graça, nem pensar. A não ser que você deixe aberta a porta que dá para o corredor, o que acaba com a privacidade e a segurança e, de qualquer forma, não é permitido pela convenção. E um brise-soleil (quebra-sol) externo? Também não pensaram nisso. E não me venha propor colocar um só para você; a convenção do prédio também não permite. E colocar na fachada toda é caro. Por outro lado, como vimos no cálculo acima, passaria a dar lucro em poucos anos.
E falando em calor, ar-condicionado e gastos com energia elétrica, que tal abolirmos de vez a gravata? Essa convenção indumentária surreal inferniza o planeta inteiro no verão e os países quentes durante o ano todo e exige, sozinha, gastos bilionários em climatização. Quanto desperdício por um pedaço de pano, ainda que seja de seda italiana.
Talvez esses exemplos singelos ilustrem como chegamos ao ponto que chegamos. Afinal, antes de mudar o mundo, temos que mudar a cabeça de nossos vizinhos e colegas de trabalho. E eles, assim como o mercado financeiro, só enxergam em curto prazo.
Talvez tenham razão; os prazos estão mesmo encurtando. E boa sorte com a proposta de brise-soleil na próxima reunião de condomínio. Não deixe de nos contar como foi.

Jean Remy Guimarães é Biólogo do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho Universidade Federal do Rio de Janeiro e publica a coluna Terra em Transe na terceira sexta-feira do mês, no Ciência Hoje


O CARNAVAL, A CIDADE E O MEIO AMBIENTE
Por Almandrade Andrade
(Artista plástico, poeta e arquiteto)

Com as mudanças climáticas aceleradas há uma tendência de dificultar ainda mais a vida no planeta nas próximas décadas, por essa razão a perda da qualidade de vida tende a aumentar e conseqüentemente também a recessão da ética, da cidadania, da ordem, da educação e das responsabilidades individuais com o outro e o meio ambiente. Levar vantagem, não importa como, é uma meta.
Na sociedade urbano-contemporânea, a perda do domínio público é visível nas reivindicações ou reclamações que vêm à tona quando surgem intervenções que atingem o espaço particular. Há muito a cidade deixou de ser o lugar da liberdade, do diálogo, do encontro, é o lugar dos prazeres imediatos e do consumo, da circulação da mercadoria. Chegou o verão, a cidade do salvador é do turismo e da festa. Estamos nas vésperas de mais um carnaval. A cidade, desprovida do sentido de comunidade, é o palco onde tudo se troca, tudo tem um valor de mercado, do entretenimento ao corpo. O evento já não é mais uma diversão, mas uma indústria de um espetáculo que invade a cidade. E para quem vive no circuito da folia, sem tranqüilidade, exilado em seu próprio espaço residencial, invadido pelo barulho da rua e o odor desagradável de urina e cerveja, não há alternativa. O carnaval acabou se transformando numa festa autoritária para quem não tem o direito de optar por outro divertimento, por outro tipo de música. Cresceu demais, ficou maior que a cidade, que mal o suporta. Ainda não se fez uma avaliação do impacto dos trios elétricos na estrutura dos prédios, monumentos históricos e no entorno. Chegou o momento de se pensar numa cidade do carnaval para o desfile dos trio-elétricos e a infra-estrutura necessária que a festa exige como o sambódromo, no Rio de Janeiro. A festa gera consumos exagerados de água, eletricidade, combustível, produz uma quantidade de lixo e custos de coleta. O carnaval é um exemplo da privatização do espaço público e da nossa incapacidade de habitar o lugar público, nos acostumamos a pensar o público como uma reprodução do privado, até como forma de se sentir protegido. Com seus trios seletivos, é a extensão do domínio privado. A liberdade é o deslocamento para o público e a publicidade daquilo que se deseja realizar na intimidade e daquilo que não se tem coragem de realizar, nos outros dias do ano. É preciso entender a cidade além da concepção de espaço físico. Habitar uma cidade tem como princípio básico o exercício da cidadania e o agir ético dentro de uma determinada sociedade. O consumidor, o personagem central da cidade moderna, ignora esse princípio e quem tem mais poder de consumo reivindica para si os benefícios da cidade. Isso está muito claro no carnaval, nos luxuosos camarotes, nas cordas que circulam os trios.
Meio ambiente, cidadania e ética atravessam a cidade da festa. A função que o homem exerce na ocupação e significação do espaço, na relação com o outro e a natureza, diz respeito a valores que determinam a vida de cada ser no planeta. Valores que estão em crise. O homem moderno se dissociou dos propósitos mais importantes da vida, do compromisso pessoal com o estilo de vida e valores éticos. As necessidades devem ser satisfeitas levando em conta a necessidade do outro e das futuras gerações. Mas perdemos nosso senso de responsabilidade.



POR HABITAÇÕES MAIS SUSTENTÁVEIS
Por Clarice Menezes Degani
Publicado por TERRA

Não é de hoje que a humanidade busca o desenvolvimento. Ele é objetivo das diversas pesquisas do meio acadêmico e, embora de modo e proporções diferentes, também é anseio dos cidadãos comuns. Por desenvolvimento, pretende-se garantir e aperfeiçoar as condições de vida dos seres humanos, buscando muito mais do que o atendimento de suas necessidades básicas de alimentação e abrigo, mas provendo-os de boas condições de conforto e saúde e permitindo uma amplitude das opções de trabalho, educação, lazer e cultura.
Por perceber as consequências negativas nas cidades e nos ecossistemas decorrentes do desenvolvimento a qualquer custo, o termo sustentabilidade aparece nos debates desencadeados em fóruns mundiais, para que este ocorra por meio de tecnologias menos impactantes, partindo de novas ideias, de novas práticas e de novas posturas.
E como novas práticas e novas posturas começam dentro de casa, percebe-se a importância de considerar estas questões de sustentabilidade nas próprias habitações que abrigam os cidadãos e compõem o cenário das cidades, independente de estarem inseridas em meio urbano ou rural, ou de pertencerem a pessoas com maior ou menor poder aquisitivo.

Mas o que seriam habitações mais sustentáveis para todos?
Primeiramente, esquecer os modelos. Fixar modelos, por si só, já é uma atitude insustentável, pois permite incoerências com os diferentes contextos em que as habitações podem estar inseridas, com a diversidade cultural das pessoas que nelas irão habitar e com os diversos orçamentos disponíveis.
Também é importante sinalizar os benefícios de uma habitação mais sustentável ao longo do tempo, os quais poderão ser percebidos diretamente pela redução das despesas no consumo de água, energia elétrica e gás e nas atividades de conservação e manutenção. Esta redução de despesas pode ser obtida de diversas maneiras, sem necessariamente exigir grandes investimentos, mas sempre partindo de planejamento, gestão e comprometimento dos usuários na utilização das unidades habitacionais.

São boas práticas:
- Instalação de luminárias e lâmpadas mais eficientes.
- Dimensionamento e distribuição adequada dos circuitos de tomadas e pontos de luz.
- Entrega (ou orientação para a aquisição) de eletrodomésticos com altos níveis de eficiência energética e certificados pelo PBE do Inmetro (em habitações de baixa renda).
- Instalação e posicionamento adequado de esquadrias de modo a permitir a passagem de luz durante o dia.
- Aquecimento da água, sempre que possível, por meio de energia solar térmica - buscando as melhores soluções considerando a demanda de cada habitação (banho, lavatórios, pias de cozinha, piscinas) e as superfícies disponíveis de exposição ao sol.
- Uso de sistemas de apoio a gás também como alternativa ao uso da energia elétrica da concessionária, contribuindo para a redução da demanda urbana no horário de pico.
- Instalação de dispositivos economizadores de água, garantindo menores vazões, maior durabilidade dos mecanismos e facilidade para a detecção de vazamentos.
- Instalação de dispositivos e medidores setorizados que permitam aos gestores prediais e aos condôminos o monitoramento dos consumos de energia elétrica, água e gás.
- Uso de fontes alternativas de água ¿ sempre com o cuidado de evitar a contaminação das redes e garantir a constância da realização correta dos tratamentos das águas ao longo dos anos de uso das habitações (a princípio, a captação de águas de chuva para uso em irrigação e na lavagem de pisos externos é uma boa opção; também o aproveitamento das águas servidas de tanques e máquinas de lavar roupa para a lavagem de pisos externos). Todos os modos de reuso de água devem ter sua oferta e demanda avaliados, assim como o aculturamento dos usuários dos sistemas, de modo a garantir que esta economia no uso da água potável não cause problemas à saúde humana.

Além da potencial redução de despesas operacionais, as habitações mais sustentáveis também devem proporcionar melhores padrões de conforto e saúde aos seus usuários.
Em termos de conforto térmico, por exemplo, sabe-se que os padrões podem variar bastante conforme o poder aquisitivo das pessoas e, portanto, também variam as soluções de projeto e a especificação dos materiais de construção. Mas de modo geral, independente do orçamento, é possível fazer boas escolhas para os sistemas de vedação externa, para a configuração das lajes de cobertura, telhamentos e dispositivos de sombreamento, obtendo da própria arquitetura as condições térmicas interiores satisfatórias e compatíveis com as condições climáticas locais.
Já em se tratando de conforto acústico, muito ainda é preciso ser desenvolvido em termos de soluções para esquadrias, vedações internas e revestimentos de piso, sendo este não apenas um problema observado em habitações de baixa renda, mas também atingindo os diversos padrões, em maior ou menor grau, conforme o nível de exposição ao ruído.
Quando o tema é saúde, deve-se garantir nas habitações bons padrões de ventilação, proporcionados por pés direito altos e adequado posicionamento e configuração das esquadrias e outros pontos de tomada de ar, além de revestimentos de piso e parede que possibilitem fácil higienização, evitando acúmulo de poeira e contaminantes.
Em termos de investimento, entende-se que em cidades com condições climáticas mais severas ou com maior nível de exposição ao ruído ou poluição, são necessários mais recursos, sendo estas questões a serem aperfeiçoadas para garantir conforto e salubridade ótimos em habitações de pessoas de baixa renda. Do mesmo modo, as soluções em esquadrias surgem como um ponto frágil quando se trata de disponibilidade no mercado brasileiro e custos, pois são elementos fundamentais nas habitações, garantindo isolamento, estanqueidade e flexibilidade de usos nos diferentes horários do dia e condições climáticas.
De qualquer forma, com planejamento e boa arquitetura é perfeitamente possível obter-se habitações mais sustentáveis sem grandes investimentos adicionais, culturalmente aceitas e operáveis, ambientalmente menos impactantes e que contribuam para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária em termos de uso dos recursos.

Clarice Menezes Degani é engenheira especialista em sustentabilidade e assessora da vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP.



CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Por Roberto Nicolski
Publicado por Brasil Econômico

Um tema recorrente em nossa política de desenvolvimento é o entendimento do papel que exerce a universidade na geração das inovações de que nossa indústria manufatureira necessita para ser competitiva e, assim, ser um player efetivo no comércio mundial.
Ciclicamente ouve-se falar em transformar a ciência, de padrão internacional, criada em nossas universidades, em inovações tecnológicas agregando valor a produtos e processos.
Há até os que afirmam que essa não transformação de ciência em tecnologia seria uma deficiência das nossas indústrias e dos empresários, que teriam falta de cultura e aversão ao risco.
Será mesmo que esse processo tão linear, e aparentemente tão simples e óbvio, seja o que nos falta para nos tornarmos uma economia competitiva?
Afinal, o próprio CNPq foi criado há 60 anos com a motivação de desenvolvermos uma ciência nuclear e transferi-la para a indústria, mas ainda estamos buscando fazê-lo.
É assim também em todas as áreas de excelência da nossa ciência. Mas, afinal, o que há de errado com esse conceito alimentado pelo nosso senso comum?
É que essa linearidade é inexistente. Ao contrário, o processo de geração de inovações e sua agregação a produtos e processos provém de outra motivação: a solicitação, o desejo dos consumidores e usuários do produto.
Do mercado, enfim. A própria etimologia da palavra inovação (in novatio) significa agregar algo novo em, ou seja, melhorar e adicionar valor ao que já existe. É o que os consumidores exigem e terá êxito aquele que souber atendê-los.
Atender à demanda dos consumidores é o norte para qualquer empresa que quer inovar. Assim acontece em pelo menos 99% das patentes, como mostra o gráfico de Guenrich Altshuller, economista russo que estudou mais de 200 mil patentes e criou um método para analisá-las denominado Triz.
Claro que por vezes um concorrente se adianta na agregação de inovações. Então o início para uma empresa pode ser a engenharia reversa das melhorias incorporadas.
E a ciência acadêmica, onde fica? Sim, ela pode ser necessária quando a tecnologia já está na fronteira, ou próxima desta - como no caso da Petrobras. Mas isso é apenas 1% das patentes, como já vimos.
Apostar exclusivamente nessa estreitíssima faixa é se condenar a jamais alcançá-la.
Mas a academia tem um papel muito importante na inovação: formar recursos humanos da mais alta qualificação, com domínio das fontes de conhecimento e uma visão crítica do que ela própria ensina.
Esse profissional será um inovador na indústria em que for trabalhar. Sim, porque é a indústria que faz a inovação para atender à demanda dos usuários e clientes.
O sucesso da Coreia, China e Índia se baseia nessa realidade. A resposta dos consumidores pode ser aquilatada pelo sucesso das exportações, liderado por manufaturados. Enquanto em 2011 estamos no mesmo 28º lugar que tínhamos em 1985, a Índia saltou para o 16º, a Coreia para o 6º e a China para a ponta, superando a Alemanha.
Nenhum desses emergentes lançou um produto que já não existisse nos desenvolvidos. Mas fez tudo melhor, atendendo à demanda, seguindo os passos e a lição de um gênio da inovação: Steve Jobs, que, sem descobrir nenhum produto novo, fez da Apple a maior empresa do mundo levando a inovação ao paroxismo em produtos que já existiam. E isso sem sequer ter completado o curso de graduação.

Roberto Nicolski é físico é diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) e pró-reitor de Extensão do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo)



MODA SUSTENTÁVEL: INDO ALÉM DO MODISMO AMBIENTAL
Por Newton Figueiredo
Publicado por Terra

Em tempos de grandes eventos de moda nacionais e internacionais, é preciso ficar atento a algumas iniciativas que buscam aliar o fashion ao sustentável.
Os exemplos vão de camisetas com mensagens em defesa das florestas a uso de fios orgânicos, redução das emissões dos gases de efeito estufa, menor consumo de água, entre outros.
Porém, cabe a pergunta: será que essas ações representam de fato a incorporação genuína de uma postura de contribuir para a melhorar a qualidade de vida das pessoas ou não passam de estratégias de marketing de aparência para que a moda entre no modismo ambiental?
Afinal, os fatos estão aí, importação de tecidos e roupas de países asiáticos, em que não se sabe ao certo as condições de trabalho do lado de lá nem a responsabilidade ambiental desses fabricantes que nos enviam produtos a baixíssimos custos já que estão socializando seus impactos socioambientais. Do lado de cá são detectadas condições precárias de trabalho em muitas oficinas de costuras.
Resumindo: as marcas têm colocado em risco seus negócios, imagens e marcas construídas após muito investimento, já que pesquisas continuam a indicar que os consumidores estão mais atentos e dispostos a adquirir produtos de empresas socioambientalmente responsáveis e a penalizar empresas irresponsáveis. De outro lado, os investidores estão sempre atentos à proteção de seus capitais buscando rentabilidade com menores riscos.
O que os estilistas e fabricantes podem fazer para caminhar na direção de uma moda genuinamente sustentável e deixar a tentação da "maquiagem verde" de lado? Como provocar nos consumidores uma percepção verdadeira e consistente de que "nessa marca eu posso confiar"? Aqui vão alguns exemplos para que você possa ter um melhor conhecimento sobre práticas genuínas no negócio da moda sustentável:
Não é porque o tecido de algodão é orgânico que a roupa é sustentável. Para um jeans ou uma camiseta ser sustentável é preciso ter a comprovação, no mínimo, dos cinco atributos essenciais da sustentabilidade de um produto: a qualidade e a salubridade do produto e a responsabilidade socioambiental e de comunicação do fabricante.Por exemplo, de nada adianta ser orgânico se a tintura apresentar níveis elevados de toxidade para o usuário, se não houver responsabilidade socioambiental em todo o processo de plantio, extração, fabricação e distribuição das mercadorias e se a comunicação com o consumidor não for ética.
Se estão lhe oferecendo tecidos ou acessórios provenientes de países asiáticos emergentes ou subdesenvolvidos desconfie da responsabilidade socioambiental do fabricante. Você tem à sua disposição uma forma importante de mitigar riscos para sua imagem perante seus clientes, seus investidores e o mercado em geral: peça ao fornecedor três certificações: ISO 9001, ISO 14001 e OSHAS 18000. Com isso, você estará reduzindo em muito as probabilidades de receber produtos sem qualidade e sem responsabilidade ambiental e social na sua produção. Lembre-se que ao dar preferência para produtos produzidos em sua região você estará contribuindo, de forma positiva, para a geração de impostos locais, estimulando a geração de empregos e os serviços públicos.
Não se deixe levar por imagens em anúncios, embalagens ou catálogos de fornecedores que associam seus produtos à natureza, utilizando florestas e animais selvagens. Duvide, cada vez mais, do prefixo "eco" e da palavra natural (e outras do gênero, como 100% orgânico, ecológico, amigo do meio ambiente...). Busque conhecer a essência: qualidade, toxidade e ética.
Se for comprador de insumos, desconfie do fornecedor que afirma que seus produtos tiveram compensação de carbono e que isso os torna "verdes". Lembre-se de que a chamada compensação de carbono só deve ser feita depois de reduzidos todos os impactos gerados pela empresa e que essa compensação leva algo como 20 anos se as mudas plantadas forem cuidadosamente cuidadas. Esse é uma das "maquiagens" mais comuns. Mais uma vez, foque no que é relevante: qualidade e salubridade do produto e ética do fabricante no relacionamento com seus funcionários, prestadores de serviço, no pagamento de impostos, na geração de resíduos...
Demonstre genuinidade para seus clientes e fornecedores. Lembre-se de que: rusticidade, ambientes cheios de plantas, não tornam sua moda mais sustentável. Embalagens sem bom gosto feitas de material reciclado não conseguirão enganar o consumidor. É muito mais importante que você mostre o trabalho que vem fazendo para ter os produtos de sua confecção cada vez mais sustentáveis. O consumidor sabe que não há varinha de condão e ele ficará admirado e mais fiel á marca que convidá-lo a construir um mundo da moda verdadeiramente melhor e mais sustentável.
Se tiver interesse em aprofundar o assunto, consulte o Guia SustentaX de Comunicação Responsável com o Consumidor, disponível gratuitamente no site www.SeloSustentaX.com.br.
Newton Figueiredo é fundador e presidente do Grupo SustentaX, que desenvolve, de forma integrada, o conceito de sustentabilidade empresarial ajudando as corporações a terem seus negócios mais competitivos e sustentáveis, identificando para os consumidores produtos e serviços sustentáveis e desenvolvendo projetos de sustentabilidade para cidades e empreendimentos imobiliários.



SUSTENTABILIDADE: PROJETO SUPERAÇÃO PROFISSIONAL
Por SuperSoft
Publicado por Administradores

A proposta, desde o início do Projeto, em fevereiro de 2011, foi a de utilizar nos cursos de Inclusão Digital os sistemas opensource para usuários finais.
Uma das palavras de ordem no contexto da gestão atual é "sustentabilidade". O termo "sustentável" provém do latim sustentare (sustentar; defender; favorecer, apoiar;conservar, cuidar).
Na contemporaneidade, enfrentamos problemas tanto ambientais como sociais que, independente de posturas políticas e ideológicas, pedem alguma solução.
Neste contexto, o conceito de sustentabilidade está relacionado com o da responsabilidade social das organizações. O tema tem sido amplamente discutido e muitas ações são realizadas.
Neste artigo, queremos mostrar a iniciativa de uma empresa localizada na cidade de Rio Claro, interior do Estado de São Paulo, que, com poucos recursos e muito boa vontade, está fazendo a diferença e serve de exemplo a ser pensado no setor da educação.
Trata-se de um projeto de inclusão digital e profissional que disponibiliza cursos gratuitos à comunidade local. Os professores dos cursos são colaboradores da empresa. A empresa, além de doar os equipamentos, disponibiliza para os colaboradores voluntários 3 horas semanais, durante as quais em vez de desempenharem suas atividades na empresa, estão contribuindo com a comunidade no âmbito mais importante, o socioeducacional com foco na profissionalização.
A proposta, desde o início do Projeto, em fevereiro de 2011, foi a de utilizar nos cursos de Inclusão Digital os sistemas opensource para usuários finais. Para tanto, foi implementado o sistema operacional Linux Unbuntu e o pacote de aplicativos LibreOffice, com os quais os alunos aprendem os conceitos básicos de edição de textos, planilhas de cálculos eapresentações em slides.
A maior dificuldade em manter um projeto com uma sala com dez computadores e acesso à internet, além de profissionais que detém o conhecimento técnico e softwares para treinamento, é o custo alto. No aspecto econômico, isso implica na aquisição de software, contratação de professores, compra e manutenção de equipamentos, bem como a infra-estrutura.
É importante ressaltar a vantagem para o projeto de responsabilidade social e Inclusão Digital que utilizam Software Livre. Pesquisa realizada pela empresa SuperSoft resultou na busca pelo software livre e a relação custo-benefício que ele representa para o Projeto como um todo, pois não implica em custos de licenciamento e instalação. Além disso, existe o desafio de elaborar o material didático para uso em sala de aula, apostilas, plano de aulas e mapas de atividades e encontramos o apoio necessário com a Comunidade LibreOffice, os quais forneceram prontamente as apostilas para serem usadas no curso de Inclusão Digital – Informática Básica.
Para os demais cursos são utilizados os sistemas desenvolvidos para SuperSoft e disponibilizados para os alunos uma versão didática, viabilizando estudar em casa, para aqueles que possuem equipamentos.
No 1º semestre de 2011, Superação Profissional recebeu algumas doações de equipamentos usados de empresas privadas para apoiar o trabalho que está sendo realizado. Estas doações proporcionaram a troca e melhoria dos equipamentos que estavam em uso, contribuindo para a melhoria da infra-estrutura. Com essas doações, foram disponibilizados 6 monitores usados que puderam ser sorteados entre os alunos, o que gerou uma satisfação muito grande para eles.
Desde fevereiro, este projeto de responsabilidade social está sendo um sucesso e a procura aumentou muito no 2º semestre, sendo possível iniciar onze novas turmas de cursos básicos, duas de Auxiliar de Livros Fiscais, três de Auxiliar de Recursos Humanos, duas turmas de Auxiliar de Contabilidade e três turmas de Informática. Além disso, o interesse de voluntários em participar do projeto também teve destaque, agora conta com quatro voluntários que dedicam parte do seu tempo livre para ensinar. Com esta equipe de voluntários o Projeto Superação Profissional atende um número maior de alunos interessados em melhorar seus conhecimentos e dedicar–se a uma profissão para ser absorvido pelo mercado.
É importante ressaltar que os tutores são voluntários/colaboradores de empresa SuperSoft e, com o apoio de novos voluntários, o resultado esperado na formação de mão-de-obra qualificada será maior.
O resultado de todo este trabalho foi a certificação de 41 alunos das primeiras turmas no dia 07/11/2011 com a presença do prefeito Du Altimari e a presidente do Fundo Social de Solidariedade, Rosana Pinhatti Altimari, entre outras autoridades da atual administração da cidade de Rio Claro, bem como o diretor da empresa SuperSoft Sistemas, Alexandre Cesar de Mattos, Ana Claudia Cesar de Mattos, idealizadora do Projeto Superação Profissional e Ana Sanchez, Coordenadora do Projeto.
Esses alunos receberam o Certificado de Conclusão dos cursos básicos de Informática, Auxiliar de Livros, Folha de Pagamento e Contabilidade e fazem parte do projeto de responsabilidade social mantido pelas empresas SuperSoft Sistemas e Talklink em parceria com o Fundo Social de Solidariedade da cidade de Rio Claro.
Para 2012 serão lançadas novas turmas com projetos para novos cursos, de acordo com a demanda existente.

Conheça mais o Projeto Superação Profissional acessando os links:
Responsabilidade Social - http://www.supersoft.com.br/supera%C3%A7%C3%A3o-profissional
Blog - http://superacaoprofissional-rc.blogspot.com/2011_11_01_archive.html
Flickr - http://www.flickr.com/photos/superacaoprofissional
Youtube - http://www.youtube.com/user/SuperSoftSistemas
Facebook - http://www.facebook.com/pages/SuperSoft-Sistemas/107370762717957





SUSTENTABILIDADE: TENTATIVA DE DEFINIÇÃO
Por Leonardo Boff
Publicado por O Povo Online

"A sustentabilidade se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se refaça e ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido para as futuras gerações"
Há hoje um conflito entre as várias compreensões do que seja sustentabilidade. Clássica é a definição da ONU, do relatório Brundland, (1987) “desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações”. Esse conceito é correto mas possui duas limitações: é antropocêntrico (só considera o ser humano) e nada diz sobre a comunidade de vida (outros seres vivos que também precisam da biosfera e de sustentabilidade).Tentarei uma formulação, o mais integradora possível:
Sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida e a vida humana, visando a sua continuidade e ainda a atender as necessidades da geração presente e das futuras de tal forma que o capital natural seja mantido e enriquecido em sua capacidade de regeneração, reprodução, e coevolução.
Expliquemos, rapidamente, os termos desta visão holística:
Sustentar todas as condições necessárias para o surgimento dos seres: estes só existem a partir da conjugação das energias, dos elementos físico-químicos e informacionais que, combinados entre, si dão origem a tudo.
Sustentar todos os seres: aqui se trata de superar radicalmente o antropocentrismo. Todos os seres constituem emergências do processo de evolução e gozam de valor intrínseco, independente do uso humano.
Sustentar especialmente a Terra viva: a Terra é mais que uma “coisa” (res extensa), sem inteligência ou um mero meio de produção. Ela não contém vida. Ela mesma é viva, se autoregula, se regenera e evolui. Se não garantirmos a sustentabilidade da Terra viva, chamada Gaia, tiramos a base para todas as demais formas de sustentabilidade.
Sustentar também a comunidade de vida: não existe, o meio ambiente, como algo secundário e periférico. Nós não existimos: coexistimos e somos todos interdependentes. Todos os seres vivos são portadores do mesmo alfabeto genético básico. Formam a rede de vida, incluindo os microorganismos. Esta rede cria os biomas e a biodiversidade e é necessária para a subsistência de nossa vida neste planeta.
Sustentar a vida humana: somos um elo singular da rede da vida, o ser mais complexo de nosso sistema solar e a ponta avançada do processo evolutivo por nós conhecido, pois somos portadores de consciência, de sensibilidade e de inteligência. Sentimos que somos chamados a cuidar e guardar a Mãe Terra, garantir a continuidade da civilização e vigiar também sobre nossa capacidade destrutiva.
Sustentar a continuidade do processo evolutivo: os seres são conservados e suportados pela Energia de Fundo ou a Fonte Originária de todo o Ser. O universo possui um fim em si mesmo, pelo simples fato de existir, de continuar se expandindo e se autocriando.
Sustentar o atendimento das necessidades humanas: fazemo-lo através do uso racional e cuidadoso dos bens e serviços que o cosmos e a Terra nos oferecem sem o que sucumbiríamos.
Sustentar a nossa geração e aquelas que seguirão à nossa: a Terra é suficiente para cada geração desde que esta estabeleça uma relação de sinergia e de cooperação com ela e distribua os bens e serviços com equidade. O uso desses bens deve se reger pela solidariedade generacional. As futuras gerações tem o direito de herdarem uma Terra e uma natureza preservadas.
A sustentabilidade se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se refaça e ainda, através do gênio humano, possa ser enriquecido para as futuras gerações. Esse conceito ampliado e integrador de sustentabilidade deve servir de critério para avaliar o quanto temos progredido ou não rumo à sustentabilidade e nos deve igualmente servir de inspiração ou de ideia-geradora para realizar a sustentabilidade nos vários campos da atividade humana. Sem isso, a sustentabilidade é pura retórica sem consequências.

Leonardo Boff é teólogo/filósofo, autor do livro Sustentabilidade: o que é e o que não é, a sair em fins de janeiro de 2012 pela Editora Vozes.
lboff@leonardoboff.com



FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Por Frei Betto
Publicado por O Dia Online

Rio - Porto Alegre abrigará, de 24 a 29 deste mês de janeiro, o Fórum Social Mundial (FSM), centrado no tema ‘Crise capitalista — justiça social e ambiental’. O evento é uma das atividades preparatórias da Cúpula dos Povos da Rio+20, em junho.
O FSM se realiza no momento em que vários povos se movimentam por liberdade e democracia, como ocorre no mundo árabe. No Ocidente, a crise do capitalismo suscita o movimento Ocupem Wall Street. As duas manifestações têm clareza sobre o que não se quer, mas não apresentam propostas alternativas.
Em 15 de outubro, houve mobilizações em quase mil cidades de 82 países! No mundo andino, povos indígenas questionam o modelo capitalista de desenvolvimento e resgatam os valores do bem viver — sumak kawsay.
Como resultado da incompetência de um sistema que prioriza a acumulação privada da riqueza em detrimento dos direitos humanos, sociais e ambientais, o capitalismo conhece nova crise.
Do lado da esperança, e após três décadas de globocolonização neoliberal, as manifestações sinalizam valores positivos como a solidariedade, a defesa da igualdade, a busca de justiça, o reconhecimento da diversidade e a preservação ambiental.
Se outro mundo é possível, isso se dará a partir da convergência de todas essas mobilizações, do diálogo entre as forças sociais e de políticas convencidas de que dentro do capitalismo não há salvação para o futuro da humanidade.
O FSM de Porto Alegre 2012 deverá ser o ponto de encontro de sujeitos políticos capazes de apontar uma saída para a crise e as bases de construção de um novo modelo civilizatório. E dele poderão brotar propostas temáticas para abastecer aqueles que, em junho, se encontrarão na Cúpula dos Povos (Rio+20).

Frei Betto é escritor, autor de ‘O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade’, em parceria com Marcelo Barros



CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
Por Telma Gobbi
Publicado por Jornal da Cidade de Bauru

É louvável a intenção de qualificação profissional para nossos jovens estudantes, objetivo do programa ‘Ciências sem Fronteiras’, do governo federal. Este programa visa estimular o avanço da ciência, tecnologia, inovação e competitividade com o intercâmbio internacional dos pesquisadores, estimulando e subsidiando a presença de jovens talentos brasileiros nas universidades do Exterior.
No mundo acadêmico, é fato reconhecido serem os programas de pós-graduação uma das formas mais eficazes de se prover desenvolvimento científico, tecnológico e cultural. O ato de exportar jovens para estudar fora de seu país começou nos EUA, na primeira metade do século 20, seguido pela França, em meados da década de 50. Após o sucesso da experiência dos EUA e da França, o Japão e grande parte da Europa acompanharam este modelo de aprendizagem, valorizando os cursos de pós-graduação.
Hoje, essa modalidade de ensino vem se firmando cada vez mais no Brasil, com um contingente estudantil de 150 mil inscritos nas pós-graduações. A primeira bolsa para estudar no Exterior concedida no Brasil foi dada a Carlos Gomes por Dom Pedro II.
O primeiro curso de mestrado no Brasil teve início em 1964, na área de eletrônica do ITA, e a primeira escola a ter doutoramento foi a Unicamp, em 1970, na área de física. Tudo muito recente em nosso país. Atenção e ações de apoio governamentais mais amplas para concessão de bolsas para estudo de pós-graduação no Exterior começaram a se intensificar com o governo Sarney, quando foram disponibilizadas 1.000 bolsas por ano. Antes a cota era de, no máximo, 20 bolsas por ano. O governo Dilma, com o programa Ciências sem Fronteiras, tem como meta disponibilizar 100 mil bolsas por ano, segundo o Ministério da Educação. Programa importante. Mas devemos ter cuidado com os critérios para incluir as universidades que integrarão o Ciências sem Fronteiras.
Com um olhar crítico, mas construtivo, devemos ter cuidado para não ficarmos à mercê ou nós deixarmos iludir com as caravanas de reitores de escolas de outros países, as quais vêm à caça de nossos estudantes para suas universidades com cursos de pós-graduações de qualidade inferior aos oferecidos por nossas instituições, visando apenas alicerçar o crescimento de suas escolas com verba brasileira.
O Brasil tem hoje uma eficiente escola de pós-graduação. Novos investimentos nestes centros de excelência e a criação de outros centros de boa qualidade são fundamentais para o desenvolvimento dos nossos talentos. A proposta de trazer do Exterior 600 experientes pesquisadores internacionais talvez seja o ponto vital do projeto, pois estes serão disseminadores do conhecimento para um maior número de nossas academicos. Os EUA, após a Segunda Guerra, recrutou e acolheu os cientistas alemães. Deste modo, tiveram grande desenvolvimento científico. Hoje, as grandes universidades dos EUA têm em seu corpo docente mais de 50% de professores estrangeiros expoentes em suas áreas, no Brasil esse número não passa de 1%.
Louvo o programa, mas fico preocupada com o esvaziar de nossas escolas de pós-graduação e com o absorver de nossos melhores talentos pelas escolas para onde foram enviados. Não seria melhor uma dose mais moderada de disponibilidade de bolsas para o Exterior a nossos estudantes?
A captação de grandes cientistas estrangeiros, para reforçar nosso bom quadro de professores não seria mais eficiente para o País? Será que esta grande dose de exportação de talentos não poderá provocar uma evasão de nosso capital intelectual?
Este programa pode ter o viés de funcionar como a exportação brasileira, onde enviaremos nossas commodities intelectuais para posteriormente corrermos o risco de perdermos nossos capitais intelectuais já manufaturados. Pensemos nisto.




CIÊNCIA, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Por Eloi S. Garcia - 07 de Janeiro de 2012
Publicado por Jornal do Brasil

A crise financeira deixou o sistema de ciência, tecnologia e inovação mundial claudicante, apesar de os países considerarem a pesquisa científica importante para induzir as mudanças necessárias ao modelo produtivo. Ainda não se tem clara uma política transparente de quais são os mecanismos de transferência do conhecimento gerado pela pesquisa dos laboratórios para as indústrias.
A maioria dos governos afirma que para realizar a mudança de modelo econômico atual para nos proteger das crises é imprescindível apostar no conhecimento, na formação de recursos humanos e na inovação. Mas, quando chega a hora de definição de uma política clara, esta convicção se desvanece. Tem que ficar claro que os benefícios de um sistema robusto de pesquisa e inovação compensam os recursos investidos nestas áreas. Talvez, com exceção dos Estados Unidos, que vêm levando isto a sério, nenhum país associa em seus financiamentos governamentais a pesquisa com a inovação com o objetivo de se obter o desenvolvimento sustentável.
A excelência científica é imprescindível apesar de não traduzir diretamente em potência inovadora, mas esta depende, entre outros componentes, da pesquisa, que também se relaciona com a formação de novos cientistas, fato tão importante ao futuro do país. Deve-se ter claro que sem a pesquisa não teria sido desenvolvida a maioria dos equipamentos, materiais e produtos apresentados e utilizados pela sociedade. Ou seja, a revolução industrial se deve aos descobrimentos científicos que mudaram a história do planeta.
Um país mais competitivo e produtor de novas tecnologias e inserido no mercado mundial não pode prescindir da ciência. Deve-se desenvolver junto aos cientistas uma política para olhar mais de perto os resultados de suas investigações, além de aumentar a responsabilidade dos laboratórios em se engajarem na filosofia do desenvolvimento econômico sustentável.
Esta política deve diminuir a burocracia kafkiana existente nos institutos de pesquisas e nas universidades, que não valorizam os trabalhos de seus pesquisadores. A outra barreira está no financiamento adequado — envolvendo o governo e o setor produtivo — de projetos que levem à inovação e ao desenvolvimento.
Nosso país possui uma ciência internacionalmente reconhecida e competitiva — e isto é muito bom — mas chegou a hora da indução de uma ciência que tenha uma sinergia com o setor produtivo nacional.



PESADOS CORTES NA CIÊNCIA
Por Rui Curado Silva | Artigo | 8 Janeiro, 2012 - 01:07 - Portugal
Publicado por Esquerda.net

PORTUGAL - Fica-se com a sensação que a investigação é um fardo para este governo e só não se desiste por completo de financiar a ciência porque isso teria repercussões internacionais sérias.
Esta semana foram anunciados cortes de 39% no orçamento para 2012 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia - instituição que tem a seu cargo a atribuição de bolsas individuais e de projetos científicos. Ao contrário do que foi anunciado estamos claramente perante um orçamento desadequado à continuidade de uma investigação de qualidade e em quantidade para responder às exigências das nossas empresas e da indústria nacional. Um orçamento tão reduzido limitar-se-á a financiar algumas ilhas que perderão a ligação aos restantes grupos de investigação perdendo-se massa crítica para concorrer a projetos internacionais e para manter a participação em instituições internacionais como o ESO, o CERN, a ESA ou o Acelerador Europeu de Sincrotrão. Desta forma, as consequências deste corte contrariam o apelo do governo a concorrer a projetos europeus para compensar a escassez de financiamento.

Os projetos europeus têm taxas de aprovação inferiores a 10%, onde primam centros de investigação dos países europeus de maior dimensão onde existem autênticas agências apenas dedicadas à redação dos extensos e herméticos formulários europeus de candidatura. Se esta é a via escolhida, então no mínimo o ministério deveria promover a criação de gabinetes dedicados à redação de projetos europeus. Com o amadorismo que reina na máquina burocrática da maior parte das nossas instituições muita investigação de qualidade ficará logo pelo caminho na altura do preenchimento do formulário.
O mais perturbador é a absoluta falta de estratégia do ministério num momento de profunda crise, momento em que a ciência poderia ser um dos principais motores para sair da crise. Enuncia-se como estratégia ministerial a promoção da excelência. Promover a excelência não é estratégia nenhuma em si, qualquer ministério da ciência sério procurará promover a excelência. Para onde vai a ciência nacional? Como a investigação realizada nas universidades poderá ser mais eficaz na sua ligação à sociedade e ao tecido empresarial? Qual a importância a dar à investigação fundamental e à inovação? Como promover a investigação nas empresas privadas? São questões que ficam sem resposta. Há uma abstração total do potencial científico do país, fica-se com a sensação que a investigação é um fardo para este governo e só não se desiste por completo de financiar a ciência porque isso teria repercussões internacionais sérias, inclusivamente no seio da comissão tripartida que nos está a emprestar dinheiro.
A governação do país vai numa direção e no meio científico cada um segue para seu lado, em passeio aleatório.